Oi: uma série em oito temporadas

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16 de fevereiro de 2008: naquele dia, publicamos aqui o primeiro comentário sobre  a crise da Oi, que agora acaba de entrar com pedido de recuperação judicial, o maior do gênero na história do país. Na lei brasileira, isso acontece quando uma empresa reconhece que não tem mais condições de pagar suas dívidas (no caso, cerca de R$ 60 bilhões). Com forte ajuda dos governos Lula e Dilma, o grupo conseguiu continuar atuando nestes oito anos, apesar de todos os indicadores apontarem para uma gestão financeira no mínimo irresponsável. E agora há o risco de que o prejuízo seja estendido aos seus assinantes, alguns dos quais não têm nem a opção de mudar de operadora.

É como uma dessas séries dramáticas cujas temporadas vão se renovando a cada ano, com personagens que entram, aprontam e saem ao sabor da inspiração dos roteiristas. No início de 2008, o governo Lula anunciava seu plano de transformar a então Telemar numa “supertele”, capaz de competir com as gigantes Telefônica, América Móvil e DirecTV, inclusive em outros países. Alguns detalhes estavam no texto Para Onde Vão Nossos Bilhões?, publicado naquele dia.

Nesses pouco mais de oito anos, citamos aqui várias vezes o chamado “escândalo da BrOi”, com auxílio de sites especializados que a todo momento acrescentavam detalhes macabros da trama. Lembro particularmente do post Um Jantar de R$ 12 Bilhões, baseado numa reportagem de Elvira Lobato na Folha de São Paulo, que descrevia um encontro entre Lula e dois acionistas da empresa para sacramentar o desvio.

Outros comentários sobre o tema que saíram aqui: De R$2 para R$ 12 Bilhões (17/11/2008); O Novo Embrulho da Oi (14/07/2010); BNDES Continua Sendo Mãe (12/03/2013) e Banco dos Grandes Grupos (11/08/2010), este um microensaio sobre o papel do BNDES na política que depois seria apelidada de “bolsa-empresário”); Buraco Sem Fundo na Telefonia (07/02/2014); e o mais recenteTroca de Multas por Investimentos da Oi. Pode Isso?, de autoria do pesquisador Dane Avanzi.

Dois jornalistas de alto calibre contribuíram nos últimos dias para elucidar detalhes da “série”: Elio Gaspari, em A Oi e os Delírios da Privataria, que saiu na Folha e em O Globo; e Samuel Possebon, do portal Teletime, com A Oi e os Interesses dos Controladores. O mesmo Teletime, aliás, fez nos últimos anos vários editoriais alertando sobre os problemas financeiros do grupo.

BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, fundos de pensão… o leitor tem aí um painel de como foram conduzidas as políticas públicas nos últimos anos. E entender melhor por que a Oi está chegando a esse ponto. Com 1,2 milhão de assinantes de TV paga e quase 50 milhões de usuários de celular, a crise da empresa é uma ameaça ao consumidor. E, infelizmente, um atentado ao contribuinte.

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